por Gustavo Corinto, aluno do ICP
com a colaboração de Ana Paula Brito Guedes, aluna do ICP
Resenha do Evento preparatório
XXVI Jornadas Clínicas da EBP-Rio e ICP/-RJ, de 2019:
“A vida (não) é um sonho: real e supresa na psicanálise”[1]
Curso Fundamental do ICP
A atividade preparatória para as XXVI Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ deste ano, cujo título é: “A vida (não) é um sonho: real e surpresa na psicanálise”, começou com a leitura de três fragmentos, citações de Freud, em que ele aborda o tema do sonho. Um primeiro fragmento, sobre a função do sonho, outro sobre a impossibilidade do esgotamento da interpretação onírica - o famoso umbigo do sonho -, e um terceiro fragmento, sobre o caso extremo em que o eu abdica do desejo de dormir. Dessa forma, esperava que a discussão rondasse o tema da interpretação dos sonhos, da formação, dos processos oníricos, de condensação e deslocamento, como o desejo que é satisfeito, ou o umbigo do sonho. Assim sendo, é, com alguma surpresa, que o tema da conversa orbitou em torno do despertar, e da sua relação com o Real, e não do dormir.
Não que o sonho fora deixado de lado. Importantes questões sobre ele foram levantadas. Que tipo de sonhos são sonhados hoje? O sonho, quando chega à um analista, chega da mesma maneira que na época de Freud? O que cada um faz com seus sonhos, é parecido com o que se fazia na virada do século XX? Qual a influência do contemporâneo na formação dos sonhos? Essas foram algumas das perguntas importantes que foram levantadas durante a discussão.
Contudo, a conversação deixou a impressão de que despertar é um significante privilegiado. Passamos a discutir sobre a impossibilidade do despertar, que nunca realmente despertamos, e que o despertar viria somente com a morte. Perguntava-me, se as Jornada eram sobre os sonhos, qual o motivo de falarmos tanto sobre o despertar?
O tema surgiu após citarem a célebre frase de Lacan: “acordamos para continuarmos sonhando”. Partindo dessa frase, pude repensar o binômio sonhar/despertar. Afinal, por que não pensar em um sonhar enquanto os olhos estão abertos? Como não imaginar que os processos da formação onírica não têm ação durante o dia a dia?
Um participante da conversa conseguiu aglutinar essa sensação em uma frase: “a neurose é um sonho”[2]. Um sonho, com a condensação e deslocamento, com um desejo formador e - porque não - com um umbigo. A neurose contém tudo aquilo que esperava encontrar em uma conversa sobre o sonho. Ao pensarmos dessa forma, a barra entre os estados oníricos e de vigília parece estar borrada, escamoteada. Talvez possamos entender assim a negativa estar entre parênteses no título das Jornadas. O que faz a vida ser ou não um sonho são apenas dois parênteses, que assim como pálpebras, podem estar abertos ou fechados.
[1] O encontro se realizou no dia 23 de outubro de 2019 e foi coordenado por Tatiane Grova e Vicente Machado Gaglianone. A atividade contou com a presença dos alunos do Curso Fundamental do ICP, de Jeanne-Marie de Leers, Ruth Helena Pinto Cohen e de Sandra Viola, assim como da Comissão de ensino do ICP, coordenada por Vicente M. Gaglianone e composta por Dóris Diogo, Isabel do Rêgo Barros Duarte, Mariana Pucci e Thereza De Felice.
[2] Frase relembrada da apresentação do testemunho de passe de Irene Kuperwajs (EOL/AMP), ocorrida em 21 de outubro, no Seminário de Passe, atividade coordenada por Ana Lucia Lutterbach.
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