EIXOS TEMÁTICOS
EIXO 1:
Sonho, desejo e gozo. A prática do analista hoje.
A realização do desejo fez do sonho o caminho real para o inconsciente. Os sonhos de despertar, de angústia e de punição interrogaram a função do sonho, mas foram os sonhos traumáticos que desvelaram a repetição e o gozo que presidem a atividade onírica.
Enquanto acordo entre o inconsciente e pré-consciente, o sonho convocou a prática analítica à interpretação da mensagem cifrada, em resposta à pergunta “o que isso quer dizer?”.
A experiência clínica com os sonhos testemunha e acolhe o encontro traumático com o real. A resposta a “o que isso quer?” dirige-se ao “isso quer gozar”, que participa de todo sonho. Se o sonho é sua interpretação, ele é também o furo de sua interpretação, aquilo que não quer dizer nada. Assim, a escrita que se apresenta nas imagens do sonho não se esgota em se fazer compreendida, traduzida, decifrada, na trama do desejo que se engendra nos desfiladeiros do significante; ela também comporta o que do real resiste à simbolização e sustenta assim o gozo literal de sua escrita.
Mais do que uma parcela da infinita interpretação do sonho que o sonhador narra, ele pode encontrar em sua análise o ponto no qual vislumbra o silêncio que habita o coração dessa escrita constitutiva de seu sonho. A prática analítica hoje se defronta com o corte que se interpõe no sonho ou no pesadelo, convidando, no limite da interpretação, a fazer valer o ponto de real ali abrigado.
Angélica Bastos e Cristina Duba
EIXO 2
O sonho e sua interpretação.
Sonho que adormece e sonho que desperta
Dormimos para sonhar e despertamos para continuar sonhando, postulou Freud, nomeando o sonho como guardião do sono e realização do desejo inconsciente. Logo, porém, verificou que há sonhos cujo despertar se dá com angústia.
Lacan promove uma torção no acento dado à função do sonho, deslocando a ênfase do deciframento para o ciframento do gozo. Dormir é não ser perturbado e o gozo é perturbador. O significante apaga (oblivium) o que seria um gozo excessivo que poderia nos despertar. O sonho, trabalho significante por excelência, articula desejo e gozo, levando-nos a considerar a metonímia como um metabolismo do gozo. Como nem tudo é capturado pela engrenagem ficcional do sonho, o despertar desvela um ponto de fratura onde o sentido fracassa. Essa dimensão irrepresentável se aproxima do que Freud designou por “umbigo do sonho” e Lacan, ponto-núcleo onde o discurso faz furo, perspectiva que coloca em relevo a realização do despertar.
Convidamos vocês a interrogar, a partir da prática analítica, de que despertar se trata em cada sonho? O que desperta o ensino de Lacan acerca do sonho e do inconsciente?
Glória Maron e Sandra Viola
EIXO 3
Corpo que se sonha. Sintoma, significante e gozo.
O que se escreve no sonho?
Há um amplo espectro entre a primeira conceitualização freudiana do sonho, como realização de desejo, e o sonho como acontecimento de corpo do chamado último ensino de Lacan.
Do sonho de angústia que acorda ao sonho que entorpece e faz dormir; do sonho como representação ao sonho sobre o qual nada se tem a dizer; do sonho que inicia uma análise, presentificando o inconsciente, a outro que lhe dá um fim. Sonho clarão, sonho enigma, sonho repetitivo, eles parecem ter sido criados por outro, mas sempre nos concernem. Sonha-se com o corpo, sonha-se no corpo. A presença do real está sempre lá, naquele ponto que o impossível de suportar se insinua por imagem ou letra. Há o sonho que merece ser sonhado e outro não? Como o sintoma se escreve no sonho? Como o gozo nele persiste? O significante pode ser cifra e pode ser enredo, o que fazer com ele? Para que serve o sonho em uma análise? O que faz cada um sonhar? O sonho mente, engana e dissimula ou é sempre verdade?
Nesse eixo, esperamos receber trabalhos que articulem sonho e corpo, sonho e sintoma, sonho e letra.
Ondina Machado e Andréa Reis Santos
EIXO 4
O trabalho com o sonho na psicose.
Da clínica privada à rede pública.
O título do eixo é um convite a todos os analistas que trabalham com sujeitos psicóticos, seja em seus consultórios ou nas instituições, a situar a função e uso do sonho nessa experiência psicanalítica.
Trata-se de um esforço teórico, já que o sonho foi considerado, desde a descoberta freudiana, uma via régia do inconsciente cifrado, isto é como uma interpretação que abre para a produção de um saber inédito, no qual se constata uma articulação entre os três registros, real, simbólico e imaginário.
Os sujeitos psicóticos sonham, como todos os seres falantes, e, em alguns casos, esses sonhos são relatados para o analista. Nesse sentido, cabe ao analista interrogar o lugar do sonho no tratamento analítico quando o mesmo se encontra inserido em uma estrutura na qual o inconsciente se apresenta a céu aberto[1], como um chumbo na malha do discurso.
Propomos que os trabalhos inseridos neste tema elaborem, de alguma maneira, as relações possíveis entre o sonho - seja na sua vertente de guardião do dormir, assim como também na vertente daquele que acorda em forma de pesadelo -, e as experiências alucinatórias, as formações delirantes, as interpretações premonitórias (‘algo de mal pode vir a acontecer’), os fenômenos de borda, entre outras. Essas relações entre o sonho e as experiências psicóticas em cada caso, no singular, permitirão caminhar um pouco mais sobre as possibilidades que as mesmas abrem para o tratamento na psicose.
Paula Borsoi e Maria Silvia G. F. Hanna