top of page
annaluizaas

Um comentário sobre o texto "Estar a la hora de lo real", de Mauricio Tarrab

por Sarita Gelbert - membro EBP/AMP


Revisitar a Interpretação dos Sonhos hoje, 120 anos passados, seguramente traz novos frutos clínicos e epistêmicos à psicanálise. A Interpretação dos Sonhos foi um trabalho de Freud após a morte de seu pai, um trabalho de luto.


Este trabalho representa o marco inicial da psicanálise. Podemos ainda dizer que a experiência analítica é um processo de luto pela perda do lugar de objeto que o sujeito supôs ser para o Outro, e do gozo aí implicado. A queda do pai na civilização ocidental, o declínio da função paterna marca toda construção freudiana para além da perda biográfica acima citada.


No umbigo do sonho ou de uma análise, temos o ponto limite a partir do qual cada sujeito se confronta com a perda radical e é convocado a um saber fazer com ela. O umbigo remete ao limite entre o simbólico e o real, entre o sintoma e sua redução à letra. O umbigo marca a separação entre inconsciente transferencial e inconsciente real. Tarrab, em Estar a la hora de lo real (Entre relámpago y escritura. Testimonios de passe y otros textos. p50. Buenos Aires: Grama Ediciones, 2017), aponta o caminho da análise na direção do encontro de cada um com seu umbigo a partir dos restos que se produzem no desencontro inaugural:


Cuando intentamos que un sujeto entre en el camino del análysis,

lo que procuramos hacerle ver, em principio,

las huellas que el sentido deja diante de sus ojos (...).

Huellas del inconsciente que finalmente nos llevan a la huella del trauma

y sus consecuencias. En ese borde del inconsciente com lo desconocido, em el ombligo del sueño freudiano, se acaban todas las respuestas

que puede darnos el sentido y la significacion.


Podemos avançar sobre esse comentário ao relacionar o processo analítico com a experiência que Freud em seu sonho faz, após muito trabalho de interpretação. Ele chega ao umbigo do sonho ao se confrontar com a garganta de Irma, orifício pulsional que o remeteu ao limite da interpretação, surgindo apenas o significante assemântico Trimetilamina. Vemos Freud diante de um orifício pulsional do corpo da mulher, no encontro com o non-sense, o não-todo, o feminino. Um encontro que convoca uma virada sem retorno.


O preço dessa virada, que culmina com a queda de Fliess do lugar de interlocutor privilegiado, dá outro estatuto à psicanálise e leva Freud a se endereçar aos analistas na busca de um novo laço. Mauricio Tarrab em seu passe nos permitiu testemunhar do final de sua análise, para além do umbigo, a construção de novos laços com a psicanálise, com a Escola e com a vida.


67 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Commenting has been turned off.
bottom of page