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Comentário de um trecho do texto “Ler um sintoma”, de J.-A. Miller

por Eliana Bentes Castro - membro EBP/AMP


“...E para mimetizar ainda mais o estatuto ontológico do inconsciente, tomemos o que Lacan denomina suas formações, que valorizam precisamente o estatuto fugitivo do ser. Os sonhos se apagam. São seres que não consistem, dos quais, frequentemente, na análise, só se tem fragmentos. O lapso, o ato falho, o chiste, são seres instantâneos, que fulguram, aos quais damos, na psicanálise, um sentido de verdade, mas que se eclipsam.”

Neste texto, “Ler um sintoma”, Miller diz, anteriormente ao fragmento acima citado, que o inconsciente não é real, que para Freud o inconsciente é uma hipótese e, portanto, o resultado de uma dedução. Daí Lacan ressaltar que o sujeito é suposto, isto é, hipotético. Em outras palavras, Lacan prefere dizer que é um desejo de ser, mais do que um ser.


O inconsciente não é ôntico, é ético, pois é relativo ao desejo. Está submetido a um dever ser, ou seja, um ser sem substância, sem existência. Se o estatuto dele é ético, ele não é da ordem do real. O sujeito só se inscreve diferenciando-se do real e se pondo no nível do sentido. O que é, então, o estatuto ontológico do ser? Opõe-se ao estatuto fugitivo do ser, onde temos só os fragmentos. Tenta-se interpretar esses seres instantâneos com infindáveis sentidos. A ontologia de Lacan se mantém nesse nível, uma ontologia semântica.


Os ‘sonhos se apagam’, porém ainda se privilegia seu uso no tratamento lacaniano como a via régia para o inconsciente, mais além da ‘realização de um desejo’ como expressava Freud em A Interpretação dos Sonhos.


Os sonhos convocam ao deciframento de um real que advém no seu despertar.

Como diz Miller neste fragmento, “os sonhos são seres que não consistem, dos quais, frequentemente, na análise, só se tem fragmentos”, ou seja, o que conta para a experiência da análise é justamente o “Despertar”, quando nesse instante de tempo o real pode ser vislumbrado. O fato primário de todo discurso é adormecer. Numa análise temos o desejo de dormir, de um sujeito irritado pelo real de seu sintoma e temos a via do despertar. O desejo de despertar ao real é sem dúvida, masoquista, já que tudo o que do real nos é dado, é sintoma.


Referências Bibliográficas:

Miller, J.A - Matemas I, Buenos Aires, Ed. Manancial, 1987, pg.117-120

Freud,S. – A Interpretação dos Sonhos, Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Edição Standart Brasileira, Ed. Imago.

Lacan, J. - Seminário XI, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, 1998, Jorge Zahar Ed.

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