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Comentário - Seminário XI

Atualizado: 28 de jul. de 2019

por Rachel Amin - membro EBP/AMP



Pejac, "Heavy Sea", pejac.es

Se a função do sonho é prolongar o sono, se o sonho, afinal de contas, pode se aproximar tanto da realidade que o provoca, não podemos dizer que, a essa realidade, ele poderia responder sem sair do sono? (...) O que é que desperta? Não será, no sonho, uma outra realidade? (LACAN,1979)[1]

Lacan nos escreve no Seminário 11 que o despertar tem duplo sentido. O despertar do pesadelo restitui uma realidade constituída e representada para o sujeito, onde o real, muitas vezes se encontra velado. Lacan nos adverte que o despertar do pesadelo deve ser o ponto em que se deve procurar o desvelamento do real. Ponto em que o real se fez circunscrever, se revestiu, se envelopou e se escondeu, por trás da falta de representação, da qual só existe um lugar tenente.


Freud, em sua primeira tópica, estabelece que o princípio do prazer regeria o sonho, assim, tratar-se-ia de uma realização de desejo, sendo que a questão da satisfação pulsional ficaria em aberto.


A partir de sua segunda tópica, Freud se questiona o que do inconsciente não se reduz ao recalque e marca o despertar no sonho que toca o umbigo do sonho e o relaciona com a angústia. Ele ainda nos diz que os restos diurnos são usados para, a partir de um enredo, tocar o umbigo do sonho e nos mostra como, no coração da satisfação pulsional, explode a angústia.


O umbigo do sonho para Freud, seria uma constelação de significantes em torno do real da angústia, um ponto que escapa ao texto do sonho e que se circunscreve a partir do que é representado que veste o véu, a deformação e a mentira sobre o mal.


No sonho do “pai não vês que estou ardendo” um ponto de fuga em relação ao sentido, de angústia maciça, que especificamente desvela o irrepresentável da morte do filho faz com que o real apareça no momento em que a formalização simbólica do sujeito falha, tropeça. Lacan aponta aí seu caráter invariável e impiedoso do real.


Este sonho é precioso para nos fazer ver em que ponto podemos verificar a dobradiça entre a representação e o que escapa à representação, entre a realização de desejo e o real que desperta na voz do filho. Voz que em sua vertente de real comparece como a impossível voz do filho morto. E, concomitantemente, a voz como realização do desejo que traz o filho vivo outra vez posterga a dor irreparável da perda. Este é o paradoxo que Lacan nos mostra dizendo que o despertar tem aqui dupla função: a de zelar pelo sono e a de despertar frente ao real. Neste caso, o real da morte do filho tem o valor do que Lacan (1975) chamou de trauma.


“Este despertar é o real sob seu aspecto de impossível a ser ultrapassado, que somente se escreve à força ou por força (...).” (LACAN, 1979)


Bibliografia:

Brousse, M-H ET Alberti, C. (2014) “Os traumas na cura analítica- Bons e maus encontros com o real”., in https://ebpsp.files.wordpress.com/2014/09/os-traumas-na-cura-analc3adtica.pdf.

Tendlarz, S. “As incidências na clínica das verões da função do pai” in http://www.isepol.com/asephallus/numero_02/artigo_02port_edicao02.htmaSEPHAllus Lacan, J. (1964). O Seminário, livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979.

Lacan, J (1975-76) O Seminário Livro 23: O sinthoma, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.

Lacan, J (1977) "Une pratique de bavardage" in Le moment de conclure, inédito.

[1] LACAN, J. O Seminário livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p.59.

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